Friday, July 17, 2009

fotografia

Não lí o livro e nem ví o filme O Ensaio sobre a Cegueira, mas preciso. Sei um pouco do seu início. O ensaio sobre a cegueira, de alguma forma acho que estou ensaiando minha cegueira frente ao mundo. Uma cegueira leitosa. A experiência com pin holes. Não tenho controle algum do assunto, já que tudo o que sei é o que intuo que verei na imagem por fim revelada. E ela, que é sempre outra, me responde algo como se tudo o que me fosse permitido fosse tatear esse mundo, como se o vislumbrar daquilo que parece tão real fosse apenas uma pequena parte de um sonho. E é assim, no desvelo do não saber o que uma câmera feita com uma pequena caixa de fósforos. o que aquela câmera observa e que eu (im)paciente aguardo, eu que me revelo nos acidentes que ela propõe. falar dessa forma tão manual de fotografar é traduzir de encontro ao verbo fotografar: gravar a luz, queimar o filme, às vezes, além da conta. tenho aqui o que vejo mas espero que a minha imagem seja mais do que o limite do meu ver, espero que o acontecimento para além do meu olhar revele os enigmas de um instante vivido. E num não ver que dá a ver aquilo que sempre nos escapa, o retrato do que seja a vida em movimento. a vida e seu permeio constante entre o impermanente e o eterno. Assim vou indagando sobre o fotografar e o viver e sobre o que seja também a tentativa de captura de uma imagem. O deixar-se olhar mais que o olhar, o olhar com outros olhos. É preciso deixar o silêncio falar. E depois fazer o corpo se mover para outros lugares. Caminhar para mais longe, ou também chegar muito muito perto.

Entrar na vida meio de leve.

1 comment:

sinval garcia said...

adorei e adoro pin hole, ela nos porporciona a deliciosa sensação da descoberta, do "velho-novo" olhar sobre o mundo! ser cego nos leva adiante.